¨Vacina comestível põe os EUA em alerta¨

Indústria alimentícia agora se movimenta para estabelecer limites aos
transgênicos

Stephanie Simon escreve para 'Los Angeles Times':

O campo acabara de ser ceifado, os pés de soja cortados em tocos
amarronzados, quando um inspetor federal chegou. Ele percorreu a pé o
pequeno lote de terreno no sudoeste de Nebraska, os olhos na terra sulcada.
Então, ele os viu: alguns caules de milho amassados entre os frágeis tocos
de soja.

A descoberta sacudiu a indústria alimentícia dos EUA, pois esse não era um
milho comum - tinha sido geneticamente modificado para produzir uma 'vacina
comestível' para proteger os leitões da diarréia.

E agora a descoberta sobre o solo indicava que tinha sido levado junto no
corte de soja do outono - misturado com grãos que logo seriam processados na
composição de dezenas de produtos de mercearia, desde sorvete a molho para
salada.

Os fabricantes desses produtos foram fiéis defensores do alimento modificado
geneticamente. Mas a embrulhada do mês passado em Nebraska os deixou
furiosos. Depois de anos apoiando a biotecnologia, eles traçaram o limite -
e fizeram soar o alarme.

Pressão - Unindo forças com ativistas antibiotecnologia, há muito vistos
como o inimigo, os lobistas da indústria de alimentos estão pressionando a
favor de restrições muito mais rígidas ao último avanço da revolução
genética: a modificação de plantações para 'cultivar' produtos farmacêuticos
e químicos.

Eles temem a ameaça à saúde pública - e a seus interesses comerciais,
também - se plantas contendo vacina contra hepatite ou uma droga contra o
câncer se introduzirem furtivamente na oferta de alimentos. Por isso, estão
exigindo uma regulamentação federal que imponha limites rígidos aos locais e
condições de cultivo de plantas experimentais.

Desde o leite em pó para bebês à sopa de frango, passando pela margarina,
cerca de 70% de alimentos processados que ocupam as prateleiras do país
contêm ingredientes transgênicos, como grãos de soja geneticamente
modificados para que possam crescer com menos herbicidas.

Decompostas, essas culturas parecem um pouco esquisitas: a soja, por
exemplo, é juntada com DNA de um vírus da couve-flor e de um pé de petúnia.
Mas são testados exaustivamente e aprovados para consumo humano.

Mas o milho que produz vacina suína não é. 'Somos um dos mais fortes
defensores do uso da biotecnologia na agricultura, mas isso é uma coisa
diferente', disse Rhona Applebaum, vice-presidente executiva da National
Food Processors Association (Associação Nacional de Processadoras de
Alimentos).

Os cientistas que fazem experiências com transferências de DNA estão
desenvolvendo plantas que produzirão insulina, medicamentos para
quimioterapia, tratamentos para herpes, afinadores do sangue - até enzimas
usadas para fazer detergentes para lavar roupa. Eles os estão testando em
dezenas de campos 'biofarmacêuticos' em todo o país, desde a Califórnia a
Maryland, da Dakota do Norte ao Texas.

Essas plantas experimentais parecem-se em tudo com o milho, arroz ou cevada
normais. E isso faz delas um 'risco intolerável' ao suprimento de alimentos,
disse James Bair, vice-presidente da Associação dos Donos de Moinho da
América.
(O Estado de SP, 27/12)

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