Novo alvo: o terror nas Américas
José Meirelles Passos
José Meirelles Passos Correspondente WASHINGTON O Globol 28/10/01

O governo dos EUA está desenvolvendo um plano de defesa antiterrorismo que envolve todo o hemisfério ocidental. Comando Américas é o nome do organismo que cuidará da segurança interna dos EUA, além da do Canadá e da América Latina. Sua sede deverá ser em Miami, onde está hoje o Comando Sul — que será absorvido por ele.

O Pentágono será o eixo desse esquema que integrará as ações militares com as de inteligência, além das policiais e das financeiras. O FBI, polícia federal americana, e a CIA, a agência central de espionagem, serão pólos tão atuantes como o Departamento do Tesouro, que deverá monitorar as transações financeiras, para evitar a lavagem de dinheiro.

Há uma preocupação maior dos EUA em relação a dois pontos específicos na América Latina. Um deles é a Colômbia e, mais precisamente, o território livre de 48 mil quilômetros quadrados que o governo deu ao grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O outro é a fronteira tríplice entre Brasil, Paraguai e Argentina. Ali vêm operando células de grupos extremistas como Hezbollah, Jihad Islâmica egípcia, Hamas, al-Gamaat, e também da al-Qaeda.

A área dominada pelas Farc passou a ser considerada um campo de treinamento em potencial para terroristas colombianos e estrangeiros. A recente prisão de três militantes do Exército Republicano Irlandês (IRA) na Colômbia reforçou essa suspeita: eles tinham em seu poder material didático sobre treinamentos militares. Além disso, satélites espiões dos EUA captaram imagens de pistas de aterrissagem na área das Farc e radares na região têm registrado movimentos noturnos de aviões. Os serviços de inteligência também têm indícios de que os guerrilheiros colombianos mantêm contatos estreitos com o Hezbollah, grupo radical libanês.

— Temos informações de que, nessa parceria, o Hezbollah tornou-se o operador logístico das Farc na fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai — disse uma fonte da comunidade de inteligência americana.

Dentro da nova estratégia americana, o Comando de Operações Especiais, que coordena os grupos de elite especializados em missões militares clandestinas, terá um papel de destaque, pronto para agir em qualquer ponto do hemisfério. A área político-diplomática ficará em mãos da Organização dos Estados Americanos (OEA), através do seu Comitê Interamericano contra o Terrorismo (CICTE).

Persuasão comercial para convencer países

Segundo funcionários do governo americano ouvidos pelo GLOBO, serão intensificados os contatos dos EUA com os governos da região, com o objetivo de planejar um intercâmbio mais intenso de informações. Tanto o Pentágono quanto o FBI deverão ter verbas adicionais para treinamento de militares e policiais da América Latina. E aumentará o número de agentes do FBI e da CIA nos países da região.

— Partilhar informações bilateralmente poderá trazer benefícios diretos em termos de segurança — disse o embaixador Francis X. Taylor, coordenador do programa antiterrorismo do Departamento de Estado.

Em reunião com os representantes dos países da região na OEA, ele afirmou que o grupo al-Qaeda, de Osama bin Laden, não poderia ter realizado os ataques contra os EUA se não contasse com “uma extensa rede de apoio no mundo”, e que tal rede incluiria “células em alguns ou em muitos dos países membros da OEA”.

— Gostaria de incentivar vocês a explorarem também uma cooperação de inteligência sub-regional, com um intercâmbio de informações, por exemplo, entre os países da região andina e do bloco do Mercosul — disse Taylor.

A idéia de criar o Comando Américas partiu do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, e foi endossada prontamente pelo secretário de Estado, Colin Powell, e pelo presidente George W. Bush. O governo americano sabe que encontrará resistência em vários países, temerosos de que isso se transforme numa política de intervenção direta. Por isso, além de empreender esforços diplomáticos no sentido de reafirmar que essa é a melhor solução para garantir a segurança de todos, pretende utilizar como poder de persuasão uma política comercial mais flexível, abrindo mais o mercado dos EUA para produtos latino-americanos.

O primeiro passo no sentido de legitimar essa nova política foi dado no dia 21 de setembro, quando os países do hemisfério aprovaram na OEA, em Washington, uma resolução comprometendo-se a ajudar uns aos outros em caso de terrorismo. No terceiro parágrafo foi incluído um item específico: eles prometeram “prestar assistência adicional e apoio aos EUA, de forma apropriada, em relação aos ataques de 11 de setembro, e também para prevenir futuros atos terroristas”.

Voltar a Verdades escondidas

www.resistenciabr.org