TRECHOS 
Folha de S. Paulo, 6 de maio de 2001

Aqui as alegações estão baseadas principalmente na força-tarefa naval, com nome-código Brother Sam, consistindo de um porta-aviões e destróiers de escolta, que partiram do Caribe rumo ao Brasil em 31 de março de 1964. Sua existência tornou-se publicamente conhecida quando telegramas pertinentes constantes na biblioteca presidencial de Johnson foram liberados para o público no final da década de 70 e com a publicação da monografia de doutoramento de Phyllis Parker, U.S. Policy Prior to the Coup of 1964 (Política dos Estados Unidos Antes do Golpe de 1964).'

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'Nenhum brasileiro, seja ele militar ou civil, estava a par da formação dessa força-tarefa na época. Foi organizada segundo minha recomendação para responder à contingência de que uma crise de regime poderia evoluir para uma situação de guerra civil, com as Forças Armadas, incluindo milícias estaduais, divididas geograficamente entre elementos pró e contra Goulart.

Em 1964, a maioria dos governadores de Estado poderiam ser classificados em partidos pró e contra Goulart, e eles freqüentemente tinham grande influência junto aos comandantes militares e guarnições nos seus Estados. Sei, pela história, que uma situação de quase guerra civil ocorreu na "revolução constitucionalista" de São Paulo de 1932 contra Vargas. E, mais recentemente, um confronto direto entre unidades do Exército pareceu uma possibilidade real depois do ultimato militar contra a volta de Goulart ao Brasil, em agosto de 1961.'

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'Felizmente, a possibilidade de uma guerra civil não se concretizou. A força-tarefa não estava equipada para uma intervenção militar e ainda tinha que navegar dez dias até chegar ao Brasil quando Goulart abandonou a presidência. A despeito do relato fartamente documentado de Parker sobre os eventos, publicado há mais de 20 anos, e da ampla publicação e tradução de mensagens entre Washington e o Rio liberadas para o público, alguns elementos da imprensa brasileira e da opinião pública parecem não estar dispostos a reconhecer que a derrubada de Goulart foi realizada pelos militares brasileiros sem a assistência ou aconselhamento dos Estados Unidos.'

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'Agora, com a liberação e divulgação para o público da Fita nº WH6403,19 da Biblioteca LBJ (Lyndon B. Johnson, disponível por US$ 5,00), torna-se evidente que o telefonema de Johnson para Reedy não foi inspirado em um relatório da CIA, mas sim por um telefonema de Rusk, feito imediatamente após a conversa de Rusk comigo. No telefonema dele ao presidente Johnson, Rusk disse: "A crise está chegando ao auge dentro de um ou dois dias, talvez até mesmo esta noite. Está se formando uma bola de neve de resistência a Goulart e, conseqüentemente, a coisa pode rebentar a qualquer momento. As forças armadas, os governadores -- particularmente os Estados populosos da costa Leste -- parecem estar construindo uma resistência de verdade lá. "Não há referência de conhecimento de bastidores de um movimento militar no dia seguinte".'

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'Não houve de fato nenhum planejamento conjunto com os golpistas das Forças Armadas brasileiras. Eles nada sabiam sobre a força-tarefa do Brother Sam. Foi um plano de emergência, desconhecido dos brasileiros, baseado em uma hipotética guerra civil que nunca chegou perto de se concretizar. O fato de termos recebido de bom grado a derrubada de Goulart é bem-conhecido. Mas não houve nenhuma participação americana na deposição de Goulart pelas forças militares. Esses foram os fatos que me permitiram testemunhar perante o Senado de que o golpe foi 100% e não 99,44% brasileiro.'

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